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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Kawasaki e Fittipaldi: fim de caso

Montadora recém-instalada no Brasil e sociedade empresarial do ex-piloto de F-1 desfizeram a parceria.
O casamento foi breve e chegou ao fim. Após dois anos de namoro, noivado, investimentos em equipamentos, pessoal, marketing e planos acordados, a parceria entre dois gigantes, com marcas mundialmente reconhecidas - a Fittipaldi International e a Kawasaki do Brasil - terminou. Sem traumas. Sem ressentimentos. “Tudo se encerrou de um modo bem natural”, afirmaram os dois lados, ouvidos por Motonline.
Nessa união precocemente interrompida, de um lado figurava a Kawasaki do Brasil, braço nacional de um dos gigantescos conglomerados japoneses – a Kawasaki Heavy Industries Co.. A matriz japonesa que leva essa marca é um gigantesco meganegócio, focado na construção de portos, aeroportos, ferrovias, trens bala, petroleiros, megapontes, estradas, estações etc. A Kawasaki também produz motocicletas e Jet Skis – estes últimos, uns brinquedinhos aquáticos que criou para dar de brinde a seus clientes, donos de transatlânticos, há três décadas. 
Do outro lado da união, uma conceituada dupla brasileira, formada pelos empresários Émerson Fittipaldi, 62 anos, ex-campeão de F-1 e F-Indy, produtor mundial de citrocultura, com negócios ao redor do mundo - especialmente no continente africano - e um de seus parcerios no Brasil, o empresário Alberto Pellegrini, 55 anos, seu sócio em empreendimentos de duas rodas e em eventos, dono da Megacycle, que organizou o recente Salão das Motocicletas.
Segundo declararam as duas partes, tudo terminou naturalmente bem. Mas durante nossas entrevistas foi possível notar uma leve ponta de decepção, de modo algum traumática, em pelo menos um dos lados envolvidos - a Fittipaldi / Megacycle.

União descompassada

A história toda é bem simples. Em outubro de 2008, os dois empresários brasileiros apostaram na chegada da Kawasaki ao Brasil. A marca chegava entusiasmada, com muitos planos, como a montagem de sua fábrica em Manaus (AM) e de uma rede nacional de concessionárias.
Os sócios confiaram na renomada esportividade da marca de motocicletas Kawasaki e apostaram em sua união com outro nome consagrado nas pistas, o de Fittipaldi. Muito natural. Assim, fizeram os cálculos e criaram a concessionária autorizada Fittipaldi Kawasaki.
Segundo Pellegrini, de início ficou acertado que a Kawasaki abriria 30 concessionárias no Brasil até 2015. “Em São Paulo, seriam abertas apenas cinco revendas em cinco anos”, revelou. Isso daria margem a uma expansão controlada e gradual.
Mas os desencontros entre o que foi combinado e o que foi feito logo começaram. Segundo Pellegrini, de cara a Kawasaki não trouxe as motocicletas dentro do prazo acertado. Isso forçou os dois sócios a atrasarem a inauguração de sua concessionária em São Paulo, que estava prevista inicialmente para o final de 2008. Ela só foi inaugurada em abril de 2009.
Pellegrini diz que eles foram novamente surpreendidos porque, a partir de então, mais e mais concessionárias foram sendo abertas, uma após a outra - ao contrário do que estava acordado entre as partes. “De repente, a Kawasaki começou a abrir muitas concessionárias em São Paulo e pelo Brasil”, queixou-se.
Segundo ele, apesar dos protestos informais ("temos dezenas de e-mails onde isso é exposto”, disse) contra a enxurrada de novos revendedores autorizados abertos com a bandeira oficial da marca, a Kawasaki do Brasil continuou a inaugurar novos pontos, sem dar respostas precisas sobre como e se manteria o plano inicial.
Finalmente, sempre de acordo com Pellegrini, em julho deste ano a Kawasaki do Brasil declarou aos dois empresários que “decidira abrir quantas concessionárias achasse necessário”.
“Essa foi a gota d’água”, disse ele. Os dois sócios sentiram-se traídos pela mudança de postura. Mais: sob seu ponto de vista, viram que a marca japonesa não estava fazendo um bom negócio – e isso incluiria eles.
“Sei muito bem do que estou falando. Fui concessionário autorizado da marca alemã BMW. Ganhei até um prêmio internacional por ser o concessionário daquela marca que mais vendeu motocicletas no mundo, em 1992. Só pra você comparar, a BMW  demorou dez anos para abrir sua segunda concessionária autorizada no Brasil”, comparou Pellegrini.
Segundo o empresário, só isso já demosntra que a política da Kawasaki está “completamente errada”: “A marca andou pra trás. Basta consultar os números de vendas divulgados pela Abraciclo (associação dos favricantes nacionals de motos) e pela Fenabrave (associação dos revendedores) que você vai ver que a Kawasaki está vendendo bem menos que seus concorrentes diretos”, justificou.
Segundo Pellegrini, a Fenabrave, inclusive, fez um estudo, encomendado pela Kawasaki Fittipaldi, onde atesta que nesse caso específico de produtos (motos diferenciadas, esportivas, destinadas a um público mais elitizado) o mercado não comporta tantas concessionárias. “Isso casa com a experiência que já tive lá atrás, no comando de uma concessionária BMW”.
Assim, os dois sócios resolveram devolver a bandeira à Kawasaki, num acordo de cavalheiros, sem prejuízo para ninguém, o que foi aceito pela marca.
Também procurada para dar sua versão sobre o caso, a Kawasaki do Brasil declarou, através de seu gerente comercial e de marketing, Affonso de Martino, 45 anos, que “nesse negócio, este tipo de mudanças é normal.” Segundo Martino, “assim como são abertas novas revendas, outras fecham por não atingirem as metas a que se propuseram”, disse.
Por outro lado, Martino defende-se e ressalta que a expansão da marca vai muito bem. “Tanto que nos nossos planos está a abertura de 50 novos concessionários autorizados até o final deste ano, todos espalhadas pelo Brasil”, revelou.
Hoje, a Kawasaki conta com 24 modelos diferentes à venda no país. As mais vendida é a nacional Ninja 250R, que tem o preço sugerido de R$ 15.550,00, fora o custo de frete. “Hoje estamos vendendo cerca de 860 motocicletas por mês, entre todos os modelos.”

Conciliação

Apesar do visível desencontro no que foi acertado inicialmente, nenhum dos lados se diz disposto a brigar. “A Kawasaki propôs algo em que nós acreditamos. Vendíamos 100 motocicletas por mês em janeiro, e agora vendemos apenas 20”, contabiliza Pellegrini.
“Por outro lado, tanto eu como o Émerson temos outros negócios e precisamos tocá-los. O Emerson tem representações no mercado africano, trabalha com plantações de laranjas, e eu tenho a Megacycle.”
Ambos, Pellegrini e Fittipaldi, já foram procurados por duas outras marcas de motocicletas, mas estão estudando detidamente novas parcerias. “Primeiro, vamos encerrar de vez a parceria com a Kawasaki, sem deixar nossos consumidores órfãos. O recomeço dessa empreitada, já sob outra bandeira, poderá acontecer no início do próximo ano”, disse, sem dar mais detalhes.
Para todos nós, “kawasakeiros” ou “emersonzeiros” da vida, que acompanhamos a adrenalina esparramada por esses dois ícones da velocidade, através de décadas - e que do lado de cá formamos um público fiel, atento e aficcionado - esse desfecho também deixa uma ponta de “comeu e não gostou”. Mas, enfim, ninguém vai sumir do mapa - nem a Fittipaldi, nem a Megacycle, nem a Kawasaki. Nem nós.

Fonte: motonline.com.br

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